terça-feira, 29 de abril de 2008

Sabem lá

Hoje dou voz a uma amiga minha.
Mulher, mãe, pintora, poetisa. Dentro de pouco tempo será editado um livro dela.
Eis um dos poemas da "Maria Corgas"


Sabem lá
"Sabem lá o que sinto cá dentro
Compreendem lá um pouco desta dor intrometida
Este multiplicado tormento
Que é viver todos os dias a mesma vida?
Entendem lá metade ou um terço desta agonia
Falam com desconhecimento de causa e nem sabem
O que é ter todos os dias o mesmo dia
Todas as noites as mesmas dores que no peito não cabem
Calculam lá os que falam de mim
O que é beber café todas as manhãs com o mesmo sabor
Queimar mirra e cheirar sempre alecrim
Beijar e sentir sempre dor
Não sabem nada e olhai que nada é pouco
Sabem lá o que é buscar risos e lamber sal
Ser-se poeta e tido por louco
Ser-se gente e visto animal
Nem imaginam sequer o que é mudar de boca
Mudar de olhos para enfrentar outro olhar
Ter de fugir do silencio e da voz rouca
Porque ficar calado é pior que gritar
Sabem lá os que me apontam do alto da sua razão
Quão enganados andam com o que pensam
O quanto sofro não saber explicar a minha solidão
O quanto luto para que os que tudo sabem não vençam!

2 comentários:

Vasco Ribeiro disse...

Não sou admirador de poesia, bem longe disso. No entanto, gostei deste poema. Quer dizer, não é bem do poema em si, mas ... do carregado de emoção.
Aquele abraço,

Cheila C.C.C. disse...

"Sabem lá" a maioria das pessoas o que é sentir tudo isto.

Boa forma de "reacender a luz" do nosso espaço, Patrícia.

Até